Nutrição e Deficiência

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10% da população mundial, aproximadamente 650 milhões de pessoas, possui algum tipo de deficiência ou incapacidade. É importante percebermos as dimensões da deficiência e por isso, segundo o “The Disability Discrimination Act” da OMS, podemos definir cinco grandes categorias de deficiências: Física, Intelectual, Psiquiátrica, Sensorial e Neurológica.

É comumente sabido que um consumo alimentar equilibrado e adequado nutricionalmente tem um impacto direto na prevenção e controlo de doenças, nomeadamente das mais prevalentes a nível nacional: doenças cardiovasculares, oncológicas, diabetes e obesidade.

Antes de iniciarmos a conversa sobre a população com deficiência convém referirmos alguns princípios gerais da alimentação saudável para a população em geral, sendo eles: 

  • Começar o dia com um pequeno-almoço completo, variado e equilibrado.
  • A alimentação diária fracionada em várias refeições.
  • O consumo de sal reduzido para menos de 5g por dia e o consumo de açúcar deverá ser limitado.
  • Aumentar o consumo de legumes e hortaliças e incluir no seu dia a ingestão de 2 a 3 peças de fruta
  • A quantidade de carne nas refeições principais deverá ser ingerida moderadamente, privilegiando as brancas
  • Adotar o azeite em detrimento de outras gorduras quer para temperar quer para cozinhar.
  • Opte pelos métodos de confeção saudáveis: vapor, grelhados, assados e estufados sem refogado.
  • Beber água em abundância e moderar a ingestão de bebidas alcoólicas

De facto, a alimentação desempenha um papel decisivo na saúde e na qualidade de vida. Esta associação é de extrema relevância na pessoa com deficiência, pois uma alimentação saudável, adaptada a cada caso em particular, pode melhorar substancialmente a saúde e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas com deficiência.

Os problemas alimentares mais comuns que surgem nas pessoas com deficiência são: baixo peso, excesso ponderal/obesidade, obstipação, problemas de deglutição e interações medicamento/alimento. A seriedade dessas condições depende de vários fatores individuais, ambientais, literacia e condições socioeconómicas.

Considerando mais especificamente os problemas alimentares mais comuns vemos que:

  1. O baixo peso na pessoa com deficiência é um fator de risco para o desenvolvimento de úlceras de pressão em pessoas com mobilidade reduzida ou acamadas. Assim, é importante que a alimentação seja o mais agradável e apelativa possível, evitando-se saltar refeições e realizando-se várias refeições ao longo do dia. Devemos sempre respeitar as preferências do individuo em questão, nunca esquecendo os princípios da alimentação saudável. Em pessoas com deficiência que apresentem baixo peso é necessário aumentar a densidade calórica e se necessário suplementar nutricionalmente, sendo para isso essencial consultar um nutricionista.
     
  2. Muitas pessoas com deficiência, por outro lado, têm excesso de peso ou obesidade que se deve ao facto de as mesmas ingerirem uma quantidade de energia superior aquela que realmente necessitam. Geralmente as pessoas com deficiências motoras que limitem de alguma forma a sua atividade física precisam de um menor aporte calórico diário para garantir que suprem as suas necessidades energéticas. Assim, a ingestão alimentar deverá ser controlada optando-se por porções menores, mas sempre seguindo os princípios de alimentação saudável. Deverá ser também, sempre que possível, incentivada a prática de exercício físico não apenas para aumentar o gasto energético, mas também para melhorar algumas competências motoras e autoestima.
     
  3. A obstipação também é um problema recorrente em pessoas com deficiência que são mais inativas. Por definição a obstipação surge quando os movimentos peristálticos estão diminuídos o que provoca uma maior dificuldade no funcionamento ou uma alteração na frequência habitual de defecação. Sintomas como dor e distensão abdominal, irritabilidade, diminuição do apetite são comuns. Para se tentar contornar este problema, a pessoa deve ingerir todas as manhãs em jejum, líquidos como chá ou água a uma temperatura tépida e a dieta deve ser com alto teor em fibras, hortofrutícolas e cereais. Em alguns casos, o sumo de ameixa poderá ser uma grande ajuda. A ingestão de líquidos deverá ser elevada para hidratação das fezes. Quando possível, a atividade física deverá ser aumentada, tendo em conta as capacidades do indivíduo. Massajar a zona abdominal com regularidade pode também trazer efeitos positivos.
     
  4. Algumas pessoas com deficiência têm dificuldades alimentares, que são problemas na alimentação e que afetam negativamente a capacidade de ingerir alimentos ou líquidos de forma adequada, o que traz repercussões no estado nutricional e hídrico do indivíduo. É importante que o indivíduo seja devidamente avaliado e acompanhado por uma equipa multidisciplinar de saúde e que se adapte as texturas dos alimentos às capacidades de deglutição da pessoa com deficiência. O posicionamento durante a alimentação deverá ser melhorado existindo vários utensílios adaptados que podem melhorar a capacidade de alimentação autónoma. Quanto à hidratação por via oral, se não for possível, poderá́ recorrer à utilização de água gelificada ou fórmulas espessantes comerciais, estas últimas permitem que os líquidos adquiram uma consistência de néctar, geleia/mel ou marmelada. – Os dispositivos de compensação na alimentação são meios indispensáveis para permitir uma maior autonomia de pessoas com deficiência e/ou atividade limitadas, para se alimentarem. Em muitas situações, bastam pequenas adaptações para que estas consigam alimentar-se sozinhas. Além de permitirem uma maior autonomia, levam a que a pessoa se sinta menos limitada e dependente de terceiros.
     
  5. Não que seja regra, mas muitas vezes as pessoas com deficiência fazem uso de medicação e muitas vezes estão polimedicadas. O medicamento pode muitas vezes interagir com o alimento de diversas formas: alterando a absorção, metabolismo e excreção de alguns nutrientes, provocando distúrbios gastrointestinais, aumentando ou diminuído o apetite, etc.

Concluindo, a nutrição e a deficiência são dois conceitos que estão intimamente relacionadas e associadas. Como prioridade devemos ter sempre a preocupação em eliminar a desnutrição e assegurar a saúde e o bem-estar da pessoa com deficiência. Não é possível para ninguém, mas muito menos para uma pessoa portadora de deficiência ter uma boa qualidade de vida, se o seu estado nutricional não for favorável.

Conforme se demonstrou, a deficiência pode se apresentar de diversas formas e cada uma delas merecerá um acompanhamento particularizado que analise de maneira específica a condição de cada um e, aí sim, determine o plano alimentar cabível para cada circunstância.

 

Catarina Oliveira
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